terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A vida hoje e o sabor que ela tem

Por Fábio Pereira

Trabalhando em uma redação de TV, percebi e anunciei que o jornalismo criou um novo tipo de texto. Curiosos, alguns amigos de trabalho vieram me perguntar sobre esse tal novo gênero. Expliquei a eles que o noticiário televisivo super veloz de hoje em dia tinha dado origem ao que chamei de “texto miojo”. E, ante os olhares questionadores, fui argumentando que a pressa imposta a nós, profissionais de TV, nos fazia redigir cada vez de maneira pior. O resultado, quase sempre, é um texto nada saboroso, com um tempero sem graça e que mais parece um grude. Igualzinho a esse macarrão instantâneo que a gente compra quando a fome é maior que a vontade de cozinhar. A turma riu. Achou que era piada. Eu digo: o caso é sério e grave. Eu detesto meus textos terminados às pressas e gosmentos.A informação nunca foi tão veloz como atualmente. Em meio a essa impressionante sociedade informatizada, dinâmica por conta de seus e-mails, blogs, conversadores instantâneos e sítios virtuais de relacionamentos, nunca foi tão fácil divulgar conteúdo de qualquer espécie. Nunca foi tão simples trocar idéias. As pessoas hoje, com um clic e quase nada a mais, constroem e destroem relações pessoais. Na era do Orkut, uma mensagem desrespeitosa ou mal interpretada na página de internet pode afastar amigos de longa data. Já para os bisbilhoteiros da vida alheia, nada melhor que ler todos os recadinhos os quais julgam ser denunciantes.Cada momento da vida tem seu sabor e, por isso, é bom quem seja vivido com certa intensidade. A ligeireza do processo comunicativo, além dos importantes e notórios avanços, tem feito diminuir a preocupação com o bom conteúdo. Querem informar com rapidez a todo custo sem atentar para a qualidade da informação. Essa pressa faz com que fiquemos cada vez mais imediatistas, apressadinhos, totalmente impacientes e imprevidentes. Deixamos de sentir o sabor de bons textos e, principalmente, da vida. A tecnologia deveria ser usada com mais sabedoria.Dia desses, um texto meu publicado na internet recebeu comentário [também instantâneo] de um leitor. Segundo este, meu texto estava longo demais para os padrões da internet, que suplica por textos mais breves. Concordei. Meu texto, criminosamente, ultrapassava a marca de seis ou sete parágrafos. Além disso, no mesmo comentário, li uma observação fiel da realidade: segundo o leitor, o usuário de internet não pode se deparar com textos longos porque, geralmente, está, a um só tempo, lendo, ouvindo música, zapeando a TV e, claro, conversando com outros internautas e acessando seus e-mails. Concordei também, claro, mas não sem uma gotícula de tristeza. Essa gente está fazendo tanto e, ao mesmo tempo, nada de útil, já que corre o grande risco de produzir algo que seja insuficientemente bom. E, assim, com tanta velocidade, com tamanho ritmo alucinado, em um segundo a vida acaba. Que desgosto...

Nenhum comentário:

O nome Pândega quer traduzir nosso propósito: fazer o que gostamos - escrever - e trocar idéias, sem qualquer pretensão que não seja nos divertir e festejar.